Melinda French Gates afirma que a saúde da mulher é cronicamente subfinanciada

A filantropa bilionária Melinda French Gates disse que a saúde da mulher sofre com falta de financiamento crônico e destinou US$ 50 milhões para pesquisar o problema.

Isso faz parte de sua promessa de investir US$ 1 bilhão na área ao longo de dois anos e será usado para novas pesquisas em áreas que representam riscos significativos para mulheres ao redor do mundo, incluindo doenças autoimunes e saúde mental.

Cerca de 80% das pessoas que vivem com doenças autoimunes são mulheres , de acordo com a Faculdade de Medicina da Universidade Xavier, e a depressão é cerca de 1,5 vezes mais comum em mulheres do que em homens em todo o mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.

A pesquisa também se concentrará em doenças cardiovasculares. Embora seja um problema de saúde para ambos os sexos, pode afetá-los de forma diferente.

As mulheres têm maior probabilidade de apresentar resultados piores após um ataque cardíaco, apresentando maiores taxas de complicações e mortalidade, muitas vezes devido a fatores como diagnóstico tardio, tratamento menos oportuno e sintomas diferentes em comparação aos homens, de acordo com um estudo apresentado no congresso científico da Sociedade Europeia de Cardiologia.

A doação da organização Pivotal Ventures da Sra. Gates será destinada à ONG americana Wellcome Leap, fundada pelo Wellcome Trust, que financiará a nova pesquisa.

Os críticos, no entanto, argumentam que isso ainda está longe de resolver décadas de subfinanciamento crônico e os fundos necessários para colocar a pesquisa em saúde da mulher no mesmo nível de outras áreas da medicina.

A pesquisa sobre a saúde da mulher historicamente tem sido subfinanciada e pouco pesquisada, com a pesquisa médica tratando os corpos dos homens como padrão.

Nos EUA, mulheres em idade fértil foram, em sua maioria, excluídas dos ensaios clínicos de medicamentos em fase inicial entre 1977 e 1993. Embora essa política tenha sido, em grande parte, uma resposta protetora após crianças nascerem com defeitos congênitos graves quando suas mães tomaram o medicamento talidomida durante a gravidez, ela também resultou na exclusão sistemática de mulheres dos ensaios clínicos de medicamentos, deixando lacunas no conhecimento sobre como os medicamentos as afetam.

Até mesmo roedores fêmeas eram frequentemente deixados de fora dos testes , pois os pesquisadores temiam que as mudanças hormonais pudessem complicar a análise de dados.

Em 2019, as mulheres representavam cerca de 42% dos participantes em ensaios clínicos para câncer, doenças cardiovasculares e transtornos psiquiátricos, de acordo com a Harvard Medical School .

O Wellcome Leap é uma das maiores redes de pesquisa em saúde do mundo, que inclui mais de 160 instituições em seis continentes, incluindo países como África do Sul, Nigéria, Ruanda, Guatemala, Brasil, Cingapura, Japão e Austrália.

"A saúde da mulher é cronicamente subfinanciada, cronicamente subpesquisada e, como resultado, não é bem compreendida", disse Melinda French Gates, acrescentando que espera que vejamos progresso "anos, até décadas, mais cedo do que veríamos por meio de outras abordagens... os resultados afetarão as vidas de mulheres em todo o mundo".

As mulheres enfrentam desigualdades significativas na saúde, apesar de viverem mais que os homens.

Um relatório de saúde de 2024 da consultoria McKinsey descobriu que, em média, as mulheres passaram nove anos a mais com problemas de saúde em comparação aos homens.

O estudo afirmou que essa disparidade estava ligada à sua sub-representação histórica em pesquisas e à maior probabilidade de diagnósticos incorretos. Concluiu que esse subinvestimento deixou áreas cruciais da saúde da mulher negligenciadas.

"Precisamos de mais avanços, e precisamos deles mais rápido", acrescenta Regina Dugan, CEO da Wellcome Leap. "As mulheres já esperaram demais."

O Wellcome Leap prometeu ajudar a reduzir o risco de Alzheimer ao longo da vida das mulheres — uma doença degenerativa que as mulheres têm duas vezes mais chances de desenvolver do que os homens, de acordo com a Alzheimer's Society — financiando pesquisas para descobrir se iniciar a terapia hormonal perto da menopausa pode ter efeitos protetores na saúde do cérebro e potencialmente reduzir o risco de Alzheimer ou declínio cognitivo.

No entanto, alguns profissionais da linha de frente dizem que modelos de financiamento ocidentais de alto nível como esse às vezes acabam ignorando-os.

Serley Eises, diretora executiva da Lidar Community Foundation em Windhoek, Namíbia, que trabalha com mulheres e meninas vulneráveis, diz que a organização não recebe financiamento de doadores ocidentais devido à falta de publicidade.

Ela disse à BBC que acredita que "o impacto duradouro na saúde mental das mulheres vem do investimento em organizações comunitárias de base que oferecem espaços seguros, assistência psicossocial e oportunidades práticas de educação e renda".

"Nós definitivamente entendemos essa preocupação", disse um porta-voz da Wellcome Leap à BBC, acrescentando que eles trabalham com equipes locais em trinta países.

"Os programas são projetados para gerar avanços que podem ser implementados em larga escala em colaboração com pesquisadores, clínicos e também com pessoas de organizações de base."

De acordo com o Fórum Econômico Mundial e a McKinsey, fechar a lacuna na saúde das mulheres é mais do que um imperativo moral: é também um imperativo econômico.

Um relatório divulgado em 2024 estimou que fechar a lacuna na saúde das mulheres poderia adicionar US$ 1 trilhão à economia global a cada ano até 2040.

Esses ganhos viriam de menores custos com assistência médica, aumento de produtividade e uma força de trabalho mais forte, impulsionada por melhores resultados de saúde para as mulheres.