Fatores de risco em adolescentes

O jogo é uma forma de entretenimento socialmente aceita na maioria dos países. Em todo o mundo, estudos mostram que 46,2% dos adultos e 17,9% dos adolescentes jogaram pelo menos uma vez no ano passado.

A rápida digitalização impulsionou o crescimento da indústria de jogos, especialmente entre os jovens. A má notícia para eles é que, como apontam os especialistas, o jogo representa uma ameaça crescente à saúde pública.

Os danos associados ao jogo são amplos e afetam a saúde e o bem-estar das pessoas , suas finanças e seus relacionamentos familiares e sociais . Não é apenas um hobby, mas um comportamento potencialmente viciante e prejudicial à saúde.

O transtorno do jogo (vício em jogos de azar) é reconhecido nas principais classificações de transtornos mentais. É caracterizada por um padrão persistente de comportamento de jogo, além de comprometimento significativo nas áreas pessoal, familiar ou profissional.

Existem grupos específicos que enfrentam um alto risco de danos relacionados ao jogo. Entre eles estão crianças e adolescentes, agora rotineiramente expostos à publicidade e às mensagens promovidas pela indústria. Além disso, a linha entre videogames e jogos de azar está se confundindo, com muitos videogames atuando como uma porta de entrada para o mundo dos jogos de azar.

De 1955 a 2019, o Projeto Europeu de Pesquisa Escolar sobre Álcool e Outras Drogas (ESPAD) conduziu sete ondas de pesquisas entre adolescentes de 15 a 16 anos na Europa. De acordo com dados de 2019, 22% dos adolescentes apostaram por dinheiro naquele ano, pessoalmente ou online. As atividades mais comuns eram loterias, apostas esportivas, jogos de cartas ou dados e máquinas caça-níqueis.

Em 2024, um projeto de pesquisa liderado por pesquisadores da UNIR e financiado pelo Ministério do Consumidor da Espanha, cujos resultados ainda não foram publicados, analisou os fatores transnacionais associados à frequência de jogos de azar. Dados de mais de 56.000 jovens da base Espad foram analisados ​​usando técnicas de aprendizado de máquina. Segundo este estudo, na Espanha, a maior frequência de jogo está associada principalmente ao consumo de álcool e tabaco , bem como ao baixo controle parental sobre as atividades dos adolescentes.

Globalmente, nos 28 países analisados, o consumo de álcool (e, em menor grau, de tabaco e outras substâncias) está relacionado à frequência do jogo . Em alguns países, outros fatores relacionados também foram identificados, como a frequência de uso de videogames e mídias sociais.

Modelos teóricos sugerem que fatores como impulsividade, redução do autocontrole e sensibilidade alterada ao reforço positivo e negativo são comuns em pessoas com tendências viciantes.

Além dos fatores comuns, há diferenças notáveis ​​entre os países. Por exemplo, apenas alguns países, como a Espanha, mostram que a supervisão parental deficiente está associada a uma maior frequência de jogos de azar.

O jogo entre adolescentes europeus é influenciado por vários fatores, que vão do uso de substâncias ao uso excessivo de videogames, passando pela falta de supervisão dos pais em certos contextos.

A cultura desempenha um papel essencial na forma como os comportamentos de jogo são percebidos e vivenciados. A aprovação social do jogo por amigos ou familiares, as normas sociais percebidas e as expectativas sobre os custos e benefícios do jogo variam significativamente entre os contextos culturais.

Nesse sentido, é fundamental desenvolver políticas de prevenção adaptadas às realidades sociais e culturais de cada país para reduzir os riscos associados ao jogo e promover um ambiente mais saudável para os jovens.

Gemma Mestre-Bach, pesquisadora de pós-doutorado em Medicina e Pesquisa Translacional na Universidade Internacional de La Rioja (UNIR); Ernesto Tarragón Cros, professor e pesquisador da UNIR; Giulia Testa, pesquisadora de pós-doutorado na UNIR.

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