Estudo polonês mostra que deslocamentos mais longos para o trabalho podem aumentar o risco de aborto espontâneo.

Mulheres que passam mais tempo se deslocando para o trabalho têm um risco maior de aborto espontâneo do que aquelas que moram perto do local de trabalho. A duração do trajeto diário pode ser um dos fatores ambientais modificáveis que influenciam a perda gestacional, enfatiza a Dra. Ewa Jarosz, da Universidade de Varsóvia.
"O aborto espontâneo, ou a perda da gravidez antes da 20ª semana, é a complicação mais comum da gravidez, e os fatores de risco conhecidos incluem ficar em pé por longos períodos, exposição a produtos químicos e trabalho em turnos. No entanto, ninguém ainda analisou a questão do deslocamento diário, embora faça parte da rotina de muitas mulheres e possa envolver vários tipos de estresse, tanto físico quanto ambiental", explicou à PAP uma especialista da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de Varsóvia.
"Decidimos verificar se a duração e a regularidade dos deslocamentos diários, que combinam elementos de estresse, exposição ambiental e fadiga, também desempenham um papel", acrescentou ela.
Em conjunto com Chen Luo e Anna Matysiak, ela analisou dados do estudo alemão Pairfam, que inclui informações sobre mulheres trabalhadoras em idade reprodutiva. Ela levou em consideração fatores como idade, índice de massa corporal (IMC), tipo de trabalho e jornada de trabalho, o que lhe permitiu separar o impacto do deslocamento diário de outros fatores preditivos conhecidos de perda gestacional.
Os pesquisadores publicaram os resultados de seu trabalho na revista "BMC Pregnancy and Childbirth" (https://doi.org/10.1186/s12884-025-08259-8).
Eles descobriram que, à medida que o tempo de deslocamento das participantes aumentava, o risco de aborto espontâneo também aumentava. Mulheres cujo deslocamento diário levava menos de 10 minutos apresentavam um risco significativamente menor em comparação com aquelas que gastavam 30 minutos ou mais no trajeto. Essa relação era gradual: quanto maior o tempo de deslocamento, maior a probabilidade de aborto espontâneo.
"Quando consideramos apenas as mulheres que se deslocavam diariamente para o trabalho, essa correlação tornou-se ainda mais forte. Isso sugere que a exposição regular e prolongada a fatores relacionados ao deslocamento diário, como estresse, fadiga e poluição do ar, pode aumentar o risco de aborto espontâneo", observou o Dr. Jarosz.
Ela acrescentou que, nos últimos anos, acumularam-se muitas evidências demonstrando que certos aspectos do trabalho remunerado são fatores de risco significativos para o aborto espontâneo. Entre os fatores bem documentados estão o trabalho por turnos e as consequentes alterações nos ritmos circadianos, bem como a exposição a substâncias químicas nocivas. Os resultados deste estudo sugerem que longos deslocamentos para o trabalho podem ser igualmente importantes. Segundo a autora, isso pode ser devido ao fato de que o deslocamento diário não só aumenta o estresse, tanto físico quanto psicológico, como também limita o tempo para descanso e consultas médicas.
— Quanto mais tempo uma mulher passa se deslocando para o trabalho, menos tempo ela tem para relaxar e para o pré-natal, o que também pode ser importante — observou o Dr. Jarosz.
A exposição à poluição atmosférica, incluindo gases de escape de veículos, particularmente óxidos de nitrogênio e material particulado, também comprovadamente impacta negativamente os resultados da gravidez e o risco de aborto espontâneo. Essas substâncias podem afetar o sistema circulatório e os processos hormonais, que desempenham um papel fundamental na manutenção da gravidez.
"O tempo gasto no trânsito está associado à inalação de mais poluentes. Se isso acontecer diariamente, por um período prolongado, pode ter um impacto significativo", disse o especialista.
Na opinião dela, os resultados são consistentes com o que muitos cientistas observaram durante a pandemia. O confinamento demonstrou que o trabalho remoto pode ter um efeito benéfico na fertilidade e nos resultados da gravidez.
"Durante a pandemia, houve uma taxa de fertilidade ligeiramente mais alta, e pesquisas mostraram que mulheres trabalhando em casa tinham maior probabilidade de ter filhos. Os motivos para essa situação não foram analisados na época, mas isso nos levou a examinar questões relacionadas à mobilidade", explicou ela.
Segundo a Dra. Jarosz, essas conclusões têm implicações práticas significativas — podem ajudar muitas mulheres a aumentar suas chances de ter um filho. A duração e a frequência dos deslocamentos diários são fatores que podem ser modificados com relativa facilidade, ao contrário de fatores como idade ou peso corporal.
"Isso é algo que podemos influenciar em muitos casos. Se o trabalho remoto ou híbrido for possível, vale a pena considerá-lo, especialmente para mulheres em grupos de risco, como mulheres mais velhas, aquelas com IMC mais alto ou aquelas que já tiveram abortos espontâneos", observou a pesquisadora.
Claro, acrescentou ela, trabalhar em casa não é possível em todas as profissões, mas mesmo assim, com a boa vontade do empregador e com base em regulamentações adequadas, o número de dias de deslocamento pode ser limitado até certo ponto.
"Mesmo em profissões como cabeleireiro, restauração ou comércio a retalho, vale a pena considerar a redução da semana de trabalho ou a implementação de horários flexíveis para mulheres grávidas. Esta pode ser uma forma viável de prevenção, especialmente para grupos de maior risco", afirmou uma especialista da Universidade de Varsóvia.
O declínio acentuado da fertilidade em países desenvolvidos, incluindo a Polônia, fornece um contexto adicional que, como enfatizou o Dr. Jarosz, confere a este estudo uma importância particular. À medida que mais e mais mulheres decidem ser mães mais tarde na vida, e o risco de aborto espontâneo aumenta com a idade dos pais, identificar até mesmo fatores menores que possam ser modificados torna-se um elemento crucial das políticas de saúde pública.
"Ouvimos frequentemente que as mulheres deveriam ter mais filhos, mas, ao mesmo tempo, o trabalho remoto é criticado em muitos círculos. Entretanto, nosso estudo mostra que a possibilidade de trabalhar remotamente pode, na verdade, contribuir para a fertilidade e a saúde das mulheres", concluiu ela.
Os autores do estudo planejam dar continuidade à pesquisa na forma de um projeto clínico piloto, no qual um grupo de mulheres será aconselhado a limitar o deslocamento para o trabalho, enquanto o outro será aconselhado a manter sua rotina atual. Isso nos permitirá verificar se as mudanças no estilo de vida realmente se traduzem em uma menor taxa de abortos espontâneos.
Katarzyna Czechowicz (PAP)
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