AIDS: Fim da ajuda dos EUA corre o risco de 'apagar' mais de vinte anos de progresso, segundo o UNAIDS

A interrupção da ajuda internacional americana corre o risco de "apagar" mais de vinte anos de progresso no combate à pandemia de AIDS, alerta um relatório apresentado na quinta-feira, 10 de julho, na África do Sul, pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre AIDS (UNAIDS), a agência da ONU responsável pelo combate à AIDS. Aproximadamente 31,6 milhões de pessoas estão recebendo tratamento antirretroviral, segundo dados de 2024, e o número de mortes relacionadas ao vírus caiu mais da metade em comparação com 2010, lembra o relatório, o que reacende os temores sobre os programas de prevenção e tratamento.
Historicamente o maior doador humanitário, os Estados Unidos reduziram abruptamente sua ajuda internacional após Donald Trump retornar à Casa Branca em 20 de janeiro. O corte de 83% no financiamento americano — número anunciado pelo governo — pode levar a mais de 14 milhões de mortes adicionais até 2030 , de acordo com um estudo da revista médica The Lancet publicado em 1º de julho. O maior impacto dessa ajuda foi observado para doenças preveníveis, notadamente com a mortalidade por HIV/AIDS, reduzida em 74%.
"É uma bomba-relógio.""Estamos orgulhosos dos nossos resultados, mas preocupados com esta interrupção repentina, que está apagando o progresso alcançado", disse a diretora executiva da agência, Winnie Byanyima, à Agence France-Presse (AFP) antes da apresentação do relatório. "As prioridades podem mudar, mas não se pode simplesmente retirar o apoio vital das pessoas", disse ela, em resposta à decisão do presidente republicano.

"Passamos de uma situação em que pessoas morriam todos os dias para um ponto em que [a AIDS] é realmente uma doença crônica", disse ela, então "a questão de se o investimento valeu a pena não surge (...) Ele salva vidas."
Em abril, o UNAIDS avaliou as consequências da suspensão permanente do Plano de Emergência para o Alívio da AIDS, apoiado pelos EUA. Segundo cálculos da agência da ONU, a suspensão dessa ajuda causaria mais de 6 milhões de novas infecções e 4,2 milhões de mortes em quatro anos, levando a pandemia de volta a níveis não vistos desde o início dos anos 2000.
"Não é só falta de dinheiro, é uma bomba-relógio", insistiu Byanyima. Na Nigéria, por exemplo, o número de pessoas recebendo tratamento profilático preventivo para evitar a transmissão do vírus caiu 85% nos primeiros meses de 2025. "A forma como o mundo conseguiu se unir [contra a AIDS] é uma das páginas mais importantes do progresso na saúde pública global", enfatizou.
Uma reforma das instituições financeiras internacionaisA luta contra a AIDS, apoiada pelo ativismo popular, continua "resiliente por natureza", espera o líder, e em 25 países de baixa e média renda, dos 60 estudados pelo UNAIDS, os governos conseguiram compensar parcialmente o déficit.
Pesquisas médicas cruciais para prevenção e tratamento já foram interrompidas, inclusive na África do Sul, um país na vanguarda da pesquisa e com uma das maiores taxas de prevalência de AIDS do mundo. Este país financia "77% dos seus tratamentos para AIDS e seu orçamento para 2025 inclui um aumento de 5,9% nos gastos com saúde dedicados ao combate ao vírus em três anos", afirma o comunicado à imprensa.
"Precisamos avançar em direção a respostas financiadas nacionalmente e específicas para cada país", disse Byanyima, ao mesmo tempo em que pedia alívio da dívida e reforma das instituições financeiras internacionais para "criar espaço fiscal para que os países em desenvolvimento financiem suas próprias respostas".
Esta decisão política do governo dos EUA coloca um freio no plano "O Caminho que Acaba com a Aids", iniciado em 2021 pelo UNAIDS, que visaerradicar a AIDS como uma ameaça à saúde pública até 2030.
O mundo com a AFP
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